segunda-feira, 11 de julho de 2011

Carta ao sindicato

Amigos, 
abaixo está a cópia de uma carta enviada ao sindicato dos trabalhadores em educação aqui em Minas gerais. Depois de algumas assembleias em que se percebeu a falta de consistência em muitos aspectos, resolvi enviá-la.

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Belo Horizonte, 11/07/2011


À coordenação e direção do Sind-Ute MG


Prezados, venho por meio dessa carta reiterar meu apoio e crença na greve dos profissionais em educação. E, como professora da rede estadual, não faço mais do que minha obrigação, se quero manter minha dignidade para entrar em sala e ensinar o que é cidadania.
Mas, quero também expor algumas inquietudes e insatisfações sobre o que infelizmente vem ocorrendo em nossas assembleias.
Desde a assembléia do dia 28 venho percebendo uma menor adesão nessa atividade, naquela em especial, havia a desculpa do feriado para a ausência de  muitos companheiros (o que é justíssimo, visto que se houver uma reposição não saberemos quando poderemos gozar de um descanso).
Mas outras duas assembleias vieram e, em especial nessa última do dia 06/07, havia verdadeiras clareiras de pessoas no pátio. Fico me perguntando se o motivo tem sido o mesmo com o qual tenho lutado para superar. Nas últimas assembleias tenho sentido uma falta de objetivo enorme. Algumas questões beiram à falta de respeito, principalmente para com aqueles que vêm do interior. O horário marcado para as 14 horas nunca é respeitado, quase sempre por volta das 15hs é que começam algumas intervenções artísticas, o que não deixa de ser válido, pois refletem também nossa luta. De qualquer maneira quero chamar a atenção que, de fato, a assembleia só começa mesmo quando o sindicato toma a voz, mas que, depois de alguns informes, começam outras manifestações e só depois vem a discussão proposta pelo sindicato, depois abre-se a palavra para as dez intervenções de três minutos dificilmente respeitados. Quero chamar a atenção para essas intervenções, são de fato importantíssimas, mas sempre ocorrem já por volta das quatro horas (note-se que quem chegou no horário marcado já está há duas horas em pé, e nada ainda concreto foi decidido), nesse momento muitas pessoas já se dispersaram, porque venhamos e convenhamos é muito cansativo, quem não sai para um café ou ir ao banheiro começa a conversar e não é sobre outro assunto que não seja a greve.
Eu quero deixar bem claro que uma das coisas que mais me conquistaram na atual gestão do sindicato é a abertura e democracia, não é disso que reclamo, mas da maneira como as assembleias têm sido conduzidas. Constantemente as colocações são repetitivas e muitas vezes foge do nosso objetivo por pessoas de outra rede (conlutas) propondo intervenções desnecessárias. Sei que isso é redundante, mas preciso enfatizar.
Só depois de tudo isso, ocorre a votação, na última assembleia muitos nem tinham voltado à plenária, de onde eu estava via-se uma fila enorme para o banheiro. E depois mais falas e só então se procede à manifestação proposta.
Essas sempre ocorrem por volta das 17 horas ou mais. As passeatas são lindas para quem nelas estão. Sempre haverá paralisação no trânsito, é claro, mas não vejo o porquê disso ser feito no pior horário, não vejo o porquê de irritar a população quando deveríamos conquistá-la. Nós teremos a oportunidade de repor nossas horas não trabalhadas, provavelmente os que não conseguiram chegar aos seus destinos na hora certa, não. Por que não realizar as passeatas mais cedo? Não podemos querer sensibilizar as pessoas, quando não nos sensibilizamos com elas. Não é a população que não nos paga o que é devido, mas o governo do estado de Minas. Aliás, por que não se faz ações como no ano passado de doação de sangue, por que não fazemos mutirões para limparmos ou revitalizarmos alguma praça? E antes que me venham dizer que é o poder público que deve cuidar dessas coisas, é melhor fazer o que o outro deveria do que não fazer nada, além de manifestações em que se grite palavras de ordem. Podemos fazer muito mais do que só isso.
A qualquer pessoa que se pergunte, há a consciência de que o professor merece um salário digno, então por que ainda não as conquistamos em favor de nossa causa? É de se perguntar por que uma luta tão justa não está tendo mais do que 50% de adesão da própria categoria. Não pode ser apenas o medo do corte de ponto ou de receber menos que no subsídio. Temos que repensar, se não, corremos o risco de perdermos muitos e não conseguirmos alcançar aquilo que nunca esteve tão perto de ser conquistado.
Gostaria que o sindicato se sensibilizasse em relação a essas questões, pode parecer reclamação à toa, mas tenho percebido muitos colegas saindo das assembleias com as mesmas insatisfações. No final, tudo ficou tão esparso e cansativo que fica difícil sintetizar o que foi discutido e decidido. As assembleias, demoradas e chego a dizer desinteressantes em muitos momentos, têm deixado de nos motivar. É preciso pensar que talvez tenhamos de manter essa greve por muito mais tempo, que cada vez mais fica difícil para companheiros do interior virem, e que as pessoas não podem perder a vontade de ir. É preciso que continue a valer a pena.
Nesse momento sofremos com o boicote da imprensa e não creio que ele cessará, mas podemos chamar a atenção por muitos outros modos.
O sindicato tem, não só a minha, como também de muitos, a confiança de que estamos lutando por algo concreto e justo. Que somos bem representados pela instituição e, não vamos desistir.
Carinhosamente,
Subscrevem
Débora Martins Santos;
Quezia do Carmo Faria e
Jairo Henrique de Lacerda Morais