quinta-feira, 11 de julho de 2013

Levante Uma Bandeira

Débora Martins C B Santos¹

Belo Horizonte 11 de julho de 2013
Pela manhã ouvi os noticiários na TV sobre os protestos de hoje. Fiquei, não sei bem por que, incomodada com as declarações de que as paralisações [chamadas pela mídia de manifestações] de hoje em nada têm a ver com aquelas do mês de junho em que milhares de pessoas foram às ruas pedindo o fim da corrupção, mais justiça, apolíticas e apartidárias... ao contrário, hoje essas eram de apenas algumas poucas sindicais que tinham lá o seu motivo de “manifestar”, mas que não tinham o direito de atrapalhar a vida do povo trabalhador.
PAAAAARAAAAA TUUUDOOOOOO!!!!
Vão aqui algumas considerações:
1- Antes de tudo: hoje não é dia de “manifestação” [que pode ser de um peido a uma convulsão], hoje não é dia de comoção, hoje é GREVE GERAL, hoje é protesto. Protesto tem pautas definidas, protesto tem raízes e demandas muito bem marcadas socialmente.
2- Sim, hoje não é como nas manifestações de junho, mas aquelas nasceram do reconhecimento de demandas sociais que há muito tempo vem sendo denunciadas pelos sindicatos dos trabalhadores de diversos setores. Meu caro, um sindicato sai às ruas para protestar por melhores condições de trabalho, para denunciar que direitos têm sido violados quando não sonegados. Até onde meu parco raciocínio chega, sair às ruas com essas pautas é lutar pelo trabalhador e não contra ele.
3- Mais uma verdade, hoje os protestos são políticos. Sim!!!! POLÍTICOS!!!!! 
Graças a Deus ou à energia que te move seja lá qual for!!! Sabe por quê? Porque denunciar o que está errado, mostrar onde pode e o que deve ser mudado nas relações de trabalho é sim fazer política porque significa cuidar da Polis. Sentar na pedra e reclamar do sol quente não é fazer política, com também não o é
usurpar e prevaricar quando se é eleito.
4- Se você trabalha e tem um sindicato, observe o seu caminhar e sua história, do que falam suas pautas. Se o seu sindicato lhe convocou seja capaz de ir lutar também. Todo sindicato é tão forte quanto a categoria que este representa. Se o seu sindicato não aderiu ao movimento questione bem os motivos d’ele não se
dignar a ir às ruas lutar por você.
5- Quando a mídia jornalista chama os protestos de hoje de “manifestações”, que essas não representam o povo brasileiro, e ainda atrapalham o trabalhador o POVO, fique esperto... Ela está dizendo que sua voz só tem valor quando é apolitizada... E antes que você bata no peito e se orgulhe disso, saiba: ela está
dizendo a você que não é justo ir às ruas para reivindicar pautas específicas, que você não tem o direito de politizar, de exercer um papel fundamental nas decisões. Por isso as palavras são tão importantes. O que um apolitizado faz nas ruas? Nada, além de barulho. O que um cidadão politizado ciente e operante faz consigo e com os que estão à sua volta? Promove mudanças, promove resistência. Não se iluda, nenhum benefício nesta sociedade foi dado de graça.
Há e sempre haverá um histórico de lutas e muita resistência ao que está[ava] errado. Você não é obrigado a se sindicalizar, tampouco obrigado a ir protestar, mas reconheça todas as conquistas e o seu valor.

Por fim, se é para rasgar o verbo sejamos honestos:

- Se você foi às ruas exigindo saúde, vá hoje encontrar com os profissionais da saúde que há tempos vem dizendo que não há condições de trabalho para lhe atender; que vive de plantão em plantão, que compra luvas com seu dinheiro e às vezes tem sono depois de dias seguidos de trabalho;

- Se você pintou a cara pedindo educação de qualidade, vá à rua encontre um professor e lhe ajude a carregar a bandeira, ele vem dizendo há um tempo que teve a carreira roubada, que vive pegando bicos e por isso não tem tempo de lhe preparar aulas decentes;
- Se você foi às ruas pedindo transporte de qualidade apoie os trabalhadores desse setor, porque são eles que arcam com os prejuízos dos assaltos, com os atrasos provocados pelo trânsito caótico – e adivinhem, por [ir]responsabilidade e morosidade de quem mesmo? Tenha coragem e tome para si a dor do próximo, exija melhores condições de trabalho, exija mais contratações, exija mais segurança no transporte, mais clareza nos processos de licitação e tarifação.

- Se você foi às ruas pedir o fim da corrupção na política vá lá gritar junto ao Sindfisco/MG que há anos vem denunciando a lavagem de dinheiro, as irregularidades nas contas públicas, coisas que não aparecem na TV.
- Se você pediu segurança pública junte-se ao sindicato dos policiais civis, que não possuem equipamento de trabalho nem contingente necessários. Não podem garantir sequer a sua própria segurança, quem dirá a da população.
-Você foi às ruas pedir serviços de luz e água decentes? Junte-se aos trabalhadores da COPASA e CEMIG [ou coisa que valha em seu estado] e lute para que os descontrolados sucateamentos que precarizam as condições de trabalho e crescentes terceirizações cessem. Pois nunca se morreu tanto “à serviço da Cemig” e nunca se pagou tão caro por uma energia ou cloro na água.

- Você quer que a situação das moradias seja resolvida? O que você sabe sobre o movimento Dandara? O que você sabe, além do que passa na TV sobre o MST? Sabe quem primeiro compreendeu a luta e ficou até o último dia apoiando os professores da rede estadual de MG quando exigiram o cumprimento de uma lei? [isso mesmo, pasmem, a última greve não foi por aumento salarial, foi para que uma lei fosse cumprida].
Quer mesmo uma sociedade mais justa? Deixe de ser hipócrita, vá hoje lutar com aqueles que já estão nas ruas há muito tempo, que não precisaram de redes sociais para ter coragem de ir às ruas e apontar o que está errado e o que se deve fazer. Todos são sempre muito bem-vindos, porque somos TODOS muito mais que povo brasileiro, somos CIDADÃOS brasileiros.

Quer se livrar da corrupção? Deixe de justificar seus jeitinhos e omissões, pegue uma dessas bandeiras e PROTESTE.
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Professora na Rede Estadual de Minas Gerais