segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Do direito à greve e o porquê do seu exercício

A greve dos profissionais da educação em Minas Gerais completa hoje 67 dias. Alguns que a aderiram em seu início não permaneceram, outros tantos ou mais engrossaram o moviment que já se configura como um dos maiores. Sim, há muita divisão, polêmicas,etc.
Mas, quando se diz que a categoria está divida faço minhas as palavras da Quézia, minha amiga e colega de profissão: esse é um processo que o governo de MG vem fazendo há muito tempo, e não podemos nos submeter a isso, e somos nós, não é outra categoria, não é nenhum político que deve tomar nossas dores, não são os nossos alunos, somos nós. É nossa responsabilidade, e não de outro, lutar para garantir nossos direitos.
Se somos mesmo esclarecidos e queremos ser respeitados, temos que lutar, e agora a greve e as reivindicações são o caminho. Não acredito que o sejam sempre, mas agora, nesse momento, é essa a arma.

Mas, já parou para pensar que, mesmo com uma adesão menor que a do ano passado, essa greve está mais forte? Pois, se somos em menor número, se temos resistido mais, se temos furado mais o bloqueio da mídia, se conseguimos dessa vez fazer com que o MPE convoque o Governo para que se explique. Se mesmo com as campanhas do governo em desqualificar o movimento e os profissionais que ele mesmo aprovou por concurso e por probatório, temos conseguido apoio da comunidade, temos conseguido com que mais professores adiram à greve, mesmo só agora. Então, não há sinais de enfraquecimento, não há desorganização. Há o medo, claro, de um novo corte, é óbvio, mas ninguém entrou iludido. E como disse antes, é possível que muitos voltem às salas, no entanto voltar hoje não significa que eu não tenha o salário de julho cortado, não significa mesmo.
Nesse momento que penso que vocÊs que não aderiram à greve deveriam se manifestar, porque reclamar que não há união, não há corporativismo na categoria é fácil, ser corporativo lutar pelo outro é que são elas. Sabe, eu entrei na greve por meus direitos, mas eu só enxerguei a gravidade da situação quando vi o porfessor A.  idoso, cheio de limitações físicas, próximo à sua aposentadoria, tendo seus direitos arrancados. Isso é um estupro à uma história. Se eu não lutar contra isso e a favor de meu colega, eu não terei moral nenhuma, não terei coragem de entrar em uma sala de aula e falar em cidadania, em direitos. Eu nunca poderei esperar algo bom de ninguém porque eu não o fiz quando pude. Todos nós temos nossos calos, todos nós sofremos com contas, débitos, com abrir mão de padrão de vida. TODOS e é por isso que reivindico o que enfim, depois de tanto tempo, a lei me confere. O que posso esperar se eu não entrar em greve? O que posso querer? Que outros lutem e se eles conseguirem eu luto por isonomia? Eu não tenho coragem para essa covardia. Eu digo e afirmo é tão direito não fazer greve como o é de fazê-la. Mas, não posso mais sentir isso (em relação à postura profissional) e evitar o confronto.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Toda boa ação será punida


Eu confesso que hoje estou mais chocada ainda do que nos últimos dias,  mais do que chocada, estou triste, não há outra palavra. A notícia da execução da Juíza Patrícia Acioli, aos 47 anos, em Niterói mexeu comigo, sobretudo por algumas convicções... Há alguns dias eu tentava escrever sobre a frase que intitula essa postagem. Confesso que por muitos motivos acabei não publicando-a, achei que estava muito confusa, carregada demais de sentimentos, o que prejudicou, nesse caso, a clareza das ideias.
O fato é que a terrível sensação de que fazer a coisa certa só traz problemas e até a morte aqui no Brasil, já não é mais sensação (como era no dia em que tentei escrever) mas, que é de fato perigoso. Errado é tentar por ordem na casa, é fazer o que se deve fazer. E, fico pensando: se nem a justiça pode ser justa aqui, aonde vamos? 

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

As soluções de um governador "tampão"

Hoje os profissionais da educação de Minas Gerais aprovaram a continuidade da greve que se estende desde o dia 08 de junho. São mais de 60 dias de greve que nos levam a algumas reflexões. A primeira observação a ser feita é quanto a disposição de luta desses profissionais que resistem numa luta árdua. Afinal, mesmo com o governo do estado colocando toda a máquina da administração pública contra a categoria, os educadores dão uma notável prova de resistência, e encurralam o governo do estado que não sabe o que fazer para por fim a greve. É notável também a postura instransigente de um governador que se coloca em uma posição de indiferença em relação ao empobrecimento da categoria, e pior, indiferente também em relação aos milhares de alunos prejudicados pela paralisação das escolas. Isso sem falar na indiferença em relação ao clamor de pais que preocupados com o futuro dos seus filhos, exigem soluções do governo. Pais não só de alunos do terceiro, mas de todos as demais séries que são atingidas pela greve. Porque resolver apenas o problema  do terceiro ano? O compromisso do estado não deveria ser com todo o sistema de ensino?
É inadimissível uma greve tão longa! Alguém disse. Inadimissível é um governo permitir que uma greve se estenda por tanto tempo causando danos  aos alunos e também aos profissionais da sala de aula. 
Que o governo não se preocupa com o futuro das nossas crianças todos sabíamos, haja vista a situação precária das escolas públicas: a contratação de tantos profissionais sem formação, a merenda escolar de qualidade comprometida, os projetos pedagógicos falidos impostos às escolas pela secretaria de educação, isso sem falar, é claro, nos índices burlados da educação mineira. 
Agora, ao anunciar a contratação de "professores tampões", para substituir temporariamente nas turmas de 3º ano os profissionais que estão em greve, o governo atestou seu descaso com a educação, seu descompromisso com a juventude e com o ensino público. 
Basta um mínimo de senso crítico para saber que se o governo quisesse resolver o problema da greve era tão somente cumprir uma lei federal, e implantar no estado o Piso Salarial Nacional. Essa medida acabaria com a greve em todos os níveis de ensino e traria a normalidade a todas as escolas do estado, nãosomente no terceiro ano do EM.  Porém,  o governo prefere travar uma queda de braço com os professores, colocando em risco o ano letivo dos alunos do primeiro ao nono ano do ensino fundamental e do primeiro ao terceiro ano do ensino médio. Sim, o terceiro ano do ensino médio também está comprometido. Alguém acha que o governo irá encontrar 3 mil professores de uma hora para outra? Além disso, todos sabemos que a maioria das contratações serão de pessoas sem formação específica para lecionar as disciplinas que serão cobradas nos vestibulares e no ENEM. 
Não se iludam! O governo mais uma vez passa um verniz na situação. Passa a imagem de normalidade, mas na verdade faz apenas uma maquiagem. O triste é que podem haver pais e alunos aplaudindo isso. Coitados! Mais uma vez vítimas de um governo sorrateiro e enganador.
E os alunos do Primeiro ao nono ano do ensino fundamental? E os alunos do primeiro e segundo ano do ensino médio? Continuarão sem aulas apenas por um capricho do governador? Onde estão os pais que não vão cobrar isso do estado? Onde está a Federação de Pais que cobra o fim da greve, mas não se posicionou quando o estado retirou disciplinas fundamentais da grade curricular do Ensino Médio? Será que a Federação de pais representa apenas o terceiro ano do ensino médio? Porque ninguém ainda falou que o presidente da tal federação de pais sequer tem filhos em escola pública?
Hoje na Assembleia Estadual dos Trabalhadores em Educação, vimos muitos alunos e também pais de alunos pegando o microfone para expressarem seu apoio aos professores em greve. São pessoas conscientes que não deixaram de falar do prejuízo que a greve traz aos alunos, mas que entenderam que o grande algoz da escola pública que compromete o futuro da juventude mineira é o governo de Minas. Isso porque é um governo que desrespeita a educação e aos educadores, trata com descaso o ensino e não resolve um problema fundamental do ensino público, a remuneração do professor. As soluções apresentadas pelo governador, podem no máximo atentar contra essa greve, mas, se não houver solução definitiva os próximos anos serão de greves e mais greves. E aí? Contrataremos tampões todos os anos? Os alunos perderão dois meses de aula todos os anos? 
É preciso que a sociedade avalie o que de fato quer para os seus filhos e  para a juventude. Se um futuro certo com bases sólidas, ou apenas tampões, castelos de areia. 

Por: Adriano de Paula

Depoimento de uma professora: há 10 anos assistindo precariedade e arbitrariedade

Ontem, 09 de Agosto, foi publicada no Diário Oficial do Estado, resolução que contrata, em situação PRECÁRIA professores para atuarem na última série do Ensino Médio, sob o débil e demagógico argumento de que a greve está gerando “prejuízos irreparáveis e irreversíveis” aos alunos, devido à proximidade do exame do ENEM. Segundo a secretária de educação, o estudante precisa estar apto para o ENEM. Além disso, deixa claro que, não comparecendo à designação os profissionais habilitados (ou seja, que tenham feito curso de licenciatura exigido para o exercício desta função, conforme a LDB), qualquer pessoa “qualificada” (termo nada preciso), poderá assumir tais aulas, assumindo a responsabilidade de preparar nossos alunos para o referido exame que ocorre em Outubro. Pergunto: as aulas específicas de cada curso e especialmente as de didática e métodos de ensino são agora dispensáveis ao exercício do magistério?
            Tal ação POLÍTICA (coloco em maiúscula, dado a sua seriedade), suscita questões diversas, das quais, tenho certeza, somente conseguirei apontar algumas:
- A educação se resume ao ENEM?
- Os estudantes da rede estadual de educação têm tido possibilidade de acesso à educação de qualidade que lhes dê oportunidade de atingirem rendimento no exame do ENEM, garantindo-lhes acesso às Universidades Públicas?
- As aulas ministradas neste período terão os recursos que constantemente solicitamos em nossos planos de ações (PIP)? De repente brotarão laboratórios para as aulas de biologia, química e física, mapas históricos e geográficos atualizados, materiais didáticos complementares e tudo o mais que os órgãos responsáveis já devem ter verificado que solicitamos todos os anos?
- Lembrar-se-ão que não estamos tendo professores habilitados (às vezes até sem habilitação mesmo) de Física, Química e Matemática?
- Neste período serão investidos 25% da arrecadação do Estado na educação?
 São muitas questões....
A atitude da atual Secretária de Educação Ana Lúcia de Almeida Gazzola, juntamente com os Gerentes de Plantão aqui no estado de Minas Gerais, pode-se comparar à dos imperadores romanos em seu período de maior decadência. Jogam-nos à arena para nos digladiarmos. Estes “nós” a quem me refiro são os trabalhadores em educação, o povo, do qual fazemos parte e os estudantes, filhos deste mesmo povo. Isto revela o descaso e desrespeito com o povo que necessita (e tem direito) à educação de QUALIDADE e está em seu direito quando cobra uma solução para o impasse na greve. 
É, entretanto, um verdadeiro golpe, no mínimo sujo, a ação do governo. Primeiro, porque acha mais fácil provocar tamanha celeuma ao invés de cumprir uma lei nacional, em vigor desde Julho de 2008. É mesmo muito cinismo pautar-se na constituição para nos depreciar, quando não cumpre uma lei que nem ao menos chega aos pés do que deveria ser o salário mínimo constitucional (vide cálculos do DIEESE). É “golpe baixo” tentar romper com o direito de greve, aproveitando-se do fato de existirem tantas pessoas desempregadas que, com certeza acham que vale a pena trabalhar substituindo grevistas, por pura necessidade. São os “poderosos” colocando-nos para comermos o fígado um do outro, como se fossemos “urubus na carniça”. É a mais pura degradação da nossa sociedade, sob os olhos sádicos de quem a “governa”.
Como educadora apaixonada pelo que faço, não posso deixar de expressar a minha indignação com a, se me permite, professora Ana Lúcia Gazzola, tamanha a crueldade temperada a hipocrisia, de sua ação. Não me venham dizer para mudar de profissão. É esta que escolhi, a duras penas, como a maior parte dos meus colegas, consegui concluir a graduação, paguei por uma Especialização na Universidade FEDERAL de Minas Gerais e tenho tentado alimentar o sonho de fazer Mestrado (em Universidade Pública), simplesmente, pasmem, para ser melhor profissional na própria rede estadual. O que me move é que sei que não sou a única a pensar assim. É por isso que estamos em greve.
Por fim quero dizer que as greves dos Trabalhadores em Educação, por todo o país, significam um pedido (pedido, não, grito) de socorro pela educação no Brasil. Educação esta, sempre colocada como prioridade por todos os governos em seus discursos eleitoreiros que, se cumpridos estaríamos no paraíso. Inclusive, cadê o Governo Federal nesta história?
Faço, assim, um chamado a todos os Trabalhadores em Educação que ainda estão em sala de aula: A PARTIR DE HOJE VENHAM ENGROSSAR MAIS AINDA O MOVIMENTO GREVISTA. É DEGRADANTE ACEITAR O DESRESPEITO COM QUE OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO PÚBLICA ESTÃO SENDO TRATADOS. O DITO “ESTADO DE DIREITO” É UMA FARSA!
Assinado: Liliane Morais - Professora
Integrante do MOCLATE (Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação)