quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Desabafo de uma professora


Compartilho a indignação de minha amiga e colega Quézia, professora na rede estadual de MG, com a qualidade e o teor das reportagens que a TV  Alterosa tem feito sobre o movimento grevista. Em nenhum momento a reportagem se preocupou em discutir o mérito da questão: o Porquê dessa greve existir e persisitir


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Prezados Jornalistas e a quem mais se interessar,
Tenho 31 anos de idade, graduei pelo curso de letras em 2005 e resolvi ingressar na Rede Estadual de Ensino neste mesmo ano através de um concurso público ao qual obtive uma boa pontuação, escolhi esta profissão por vocação e por isso logo fiz uma Pós Graduação pela UFMG e me Especializei em ensino de leitura e produção de texto, pois sei o quanto o hábito de leitura e produção de texto faz falta aos meus alunos. Então, não quero aqui fazer um discurso de vitimação, mas estive em praticamente todas as manifestações dos professores porque não vejo este ato como problema de trânsito como a imprensa a favor do governo tem noticiado, vejo este ato como um exercício de cidadania assim como muitas aconteceram de maneira honrosa em defesa as ações truculentas das políticas que norteiam a história do nosso país. Mas o que mais me entristece ultimamente é ser desrespeitada como Profissional da Educação pelo Governo de Minas Gerais que não cumpre a lei, pelo Ministério Público Estadual que só tem tomado medidas favoráveis ao governo sendo que temos uma lei Federal nos dando direito a ter um piso salarial, e o pior, vejo a imprensa dizer que é imparcial e simplesmente, como tem feito a TV ALTEROSA em seu jornalismo, deturpar a imagem do professor, como se na passeata tivessem um bando de alcoólatras embriagados fazendo bagunça. E o lado real da greve????? Até hoje, em mais de 80 dias de greve, as notícias veiculadas por esta emissora é somente sobre o caos no trânsito, aliás, um trânsito que todos os dias está engarrafado por causa de obras políticas inacabadas, eleitoreiras e mal planejadas como vários trechos da Linha Verde.  
Mostrem a verdade, parece que nem a equipe de jornalismo leu as leis pelo qual pedimos o cumprimento e que deveriam nos resguardar, não sabem o motivo de nossa Greve, não enxergam as entrelinhas das propostas maldosas do Governo – ou fingem que não entendem para agradá-lo – vocês não imaginam e nem noticiaram que os profissionais não têm mais direito à greve, pois há dois meses o governo cortou o nosso salário, estamos sobrevivendo acumulando dívidas....mas ele jamais tirará a minha dignidade e honra.  Se vocês acham justo que um professor tenha como salário base R$ 712, 00 reais (pouco mais que o salário mínimo) então as noticias são coerentes, mas eu como Professora jamais acharia justo um Repórter que fez curso superior, como eu, ganhar este valor...assim como não vou aceitar ser maltratada como tenho sido pela imprensa ( graças a Deus que não são todas as emissoras que se vedem para o Governador) , não vou aceitar como remuneração este valor, não vou aceitar tratar o movimento pela educação como problema de trânsito, não vou vender a minha honra e direito de exercer a cidadania justamente.  Não conseguirei voltar para a escola, sentar na sala dos professores e só falar mal da educação e do governo sem nada fazer para a situação mudar, vou tentar acreditar em um país menos desigual e este é o motivo da minha luta. Não sei se iremos ganhar alguma vantagem financeira, mas lutamos também por dignidade e respeito. E peço profundamente e de coração a vocês jornalistas, que com certeza já precisaram de um professor para chegar nesta posição que ocupam no mercado de trabalho, que pelo menos nos respeitem, pois apoio sei que é impossível nos dar.
Este é um pequeno desabafo de uma professora que no horário de almoço viu no JA a notícia de uma calorosa manifestação de mais de 7 mil professores em que a equipe de reportagem somente conseguiu filmar, em um dia quente (um inverno de 33,3oC), meia duzia de professores que se refrescavam tomando cerveja. Diante de uma manifestação cheia de palavras de ordem pedindo respeito, democracia, cumprimento da lei federal, denunciando o descaso com a educação somente isso chamou a atenção da equipe de reportagem que parece achar normal um governador oferecer 712 reais como salário base do Professor.
Aproveito a oportunidade para lembrar a vocês jornalistas o juramento feito para concluir a graduação da profissão que vocês escolheram, reflitam bem e com o coração, e assim perceberão o mal que estão fazendo à profissão de Magistério que apenas luta para ser valorizado como são os demais cursos superiores.
"Juro, no exercício das funções de meu grau, assumir meu compromisso com a verdade e com a informação. Juro empenhar todos os meus atos e palavras, meus esforços e meus conhecimentos para construção de uma nação consciente de sua história e de sua capacidade. Juro, no exercício do meu dever profissional, não omitir, não mentir e não distorcer informações, não manipular dados e, acima de tudo, não subordinar em favor de interesses pessoais o direito do cidadão à informação."

Agradeço pela atenção, pela oportunidade de manifestar com palavras a minha indignação e tentar ter um direito de defesa.
Atenciosamente,
Professora Quezia do Carmo Faria Morais

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