Compartilho a indignação de minha amiga e colega Quézia, professora na rede estadual de MG, com a qualidade e o teor das reportagens que a TV Alterosa tem feito sobre o movimento grevista. Em nenhum momento a reportagem se preocupou em discutir o mérito da questão: o Porquê dessa greve existir e persisitir
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Prezados Jornalistas e a quem mais se
interessar,
Tenho 31 anos de idade, graduei pelo curso
de letras em 2005 e resolvi ingressar na Rede Estadual de Ensino neste mesmo
ano através de um concurso público ao qual obtive uma boa pontuação, escolhi
esta profissão por vocação e por isso logo fiz uma Pós Graduação pela UFMG e me
Especializei em ensino de leitura e produção de texto, pois sei o quanto o
hábito de leitura e produção de texto faz falta aos meus alunos. Então, não
quero aqui fazer um discurso de vitimação, mas estive em praticamente todas as
manifestações dos professores porque não vejo este ato como problema de trânsito
como a imprensa a favor do governo tem noticiado, vejo este ato como um
exercício de cidadania assim como muitas aconteceram de maneira honrosa em
defesa as ações truculentas das políticas que norteiam a história do nosso
país. Mas o que mais me entristece ultimamente é ser desrespeitada como
Profissional da Educação pelo Governo de Minas Gerais que não cumpre a lei,
pelo Ministério Público Estadual que só tem tomado medidas favoráveis ao
governo sendo que temos uma lei Federal nos dando direito a ter um piso
salarial, e o pior, vejo a imprensa dizer que é imparcial e simplesmente, como
tem feito a TV ALTEROSA em seu jornalismo, deturpar a imagem do professor, como
se na passeata tivessem um bando de alcoólatras embriagados fazendo bagunça. E o
lado real da greve????? Até hoje, em mais de 80 dias de greve, as notícias
veiculadas por esta emissora é somente sobre o caos no trânsito, aliás, um
trânsito que todos os dias está engarrafado por causa de obras políticas
inacabadas, eleitoreiras e mal planejadas como vários trechos da Linha Verde.
Mostrem a verdade, parece que nem a equipe
de jornalismo leu as leis pelo qual pedimos o cumprimento e que deveriam nos
resguardar, não sabem o motivo de nossa Greve, não enxergam as entrelinhas das
propostas maldosas do Governo – ou fingem que não entendem para agradá-lo – vocês
não imaginam e nem noticiaram que os profissionais não têm mais direito à greve,
pois há dois meses o governo cortou o nosso salário, estamos sobrevivendo
acumulando dívidas....mas ele jamais tirará a minha dignidade e honra. Se vocês acham justo que um professor tenha
como salário base R$ 712, 00 reais (pouco mais que o salário mínimo) então as
noticias são coerentes, mas eu como Professora jamais acharia justo um Repórter
que fez curso superior, como eu, ganhar este valor...assim como não vou aceitar
ser maltratada como tenho sido pela imprensa ( graças a Deus que não são todas
as emissoras que se vedem para o Governador) , não vou aceitar como remuneração
este valor, não vou aceitar tratar o movimento pela educação como problema de
trânsito, não vou vender a minha honra e direito de exercer a cidadania
justamente. Não conseguirei voltar para a escola, sentar na sala dos professores e só
falar mal da educação e do governo sem nada fazer para a situação mudar, vou
tentar acreditar em um país menos desigual e este é o motivo da minha luta. Não
sei se iremos ganhar alguma vantagem financeira, mas lutamos também por
dignidade e respeito. E peço profundamente e de coração a vocês jornalistas,
que com certeza já precisaram de um professor para chegar nesta posição que
ocupam no mercado de trabalho, que pelo menos nos respeitem, pois apoio sei que
é impossível nos dar.
Este é um
pequeno desabafo de uma professora que no horário de almoço viu no JA a notícia de uma calorosa manifestação de mais de 7 mil professores em que a equipe de reportagem
somente conseguiu filmar, em um dia quente (um inverno de 33,3oC),
meia duzia de professores que se refrescavam tomando cerveja. Diante de uma manifestação cheia de palavras de ordem
pedindo respeito, democracia, cumprimento da lei federal, denunciando o descaso
com a educação somente isso chamou a atenção da equipe de reportagem que parece
achar normal um governador oferecer 712 reais como salário base do Professor.
Aproveito a
oportunidade para lembrar a vocês jornalistas o juramento feito para concluir a
graduação da profissão que vocês escolheram, reflitam bem e com o coração, e
assim perceberão o mal que estão fazendo à profissão de Magistério que apenas
luta para ser valorizado como são os demais cursos superiores.
"Juro, no exercício das funções de meu grau, assumir meu
compromisso com a verdade e com a informação. Juro empenhar todos os meus atos
e palavras, meus esforços e meus conhecimentos para construção de uma nação
consciente de sua história e de sua capacidade. Juro, no exercício do meu dever
profissional, não omitir, não mentir e não distorcer informações, não manipular
dados e, acima de tudo, não subordinar em favor de interesses pessoais o
direito do cidadão à informação."
Agradeço pela atenção, pela oportunidade de manifestar com
palavras a minha indignação e tentar ter um direito de defesa.
Atenciosamente,
Professora Quezia do Carmo Faria Morais
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