quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Não me peçam poderações, por favor!


Amigos, colegas e possíveis leitores... (a esperança é uma coisa bela)
Como é de conhecimento de muitos, o governador de MG, afrontou-nos aviltou-nos ontem com uma proposta de R$712,00 independente da formação do professor. Hoje pela manhã ouvi mai sum avez comentários e pedidos de ponderação por parte dos professores, que os alunos é que são prejudicados com tudo isso. Resolvi repondê-los. Claro, não consegui livrar-me de minha prolixidade, haja visto o grau de tensão em que me encontro, mas por mais que lesse mais queria acrescentar, resolvi parar de lê-la e enviar. compartilho com vocês e se quiserem compartilhem, divulguem denuncie!!! Minha bandeira é a sua também!
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 Carta enviada à radio Itatiaia em 1/9/2011

Caríssimos, bom dia. Sem nehuma modéstia, eu sou uma das educadoras a quem vocês se dirigiram (me perdoe por não falar seus nomes, eu não me lembro), tenho duas graduações e um mestrado. Depois de 47 dias de greve no ano pasado, pela implantação do piso, eu e toda categoria sofremos uma rasteira quando o governo anunciou a remuneração do subsídio. Entenda, o que significa a um trabalhador se especializar, se dedicar e ter por decreto uma ajuda de custo? Eu tenho cinco anos de estado e não acho justo receber mais que minha sogra que trabalhou 35 anos como professora estadual! Tampouco sendo mestre receber como se tivesse o ensino médio. Nessa mesma lógica é muito triste ver que protestos no Chile pela educação(manifestações muitas vezes violentas), a insurgência na Líbia contra a ditadura (que ceifou muitas vidas) são noticiadas aqui como  movimentos populares legítimos e que demonstram força e consciência política, e no entanto a luta dos profissionais da educação aqui em MG e no Brasil ser sempre resumida a caos no trânsito ou prejuízo aos alunos. Ora, quando o governo mente à população, quando me cercea os direitos e, muito bem colocado por vocês há pouco, quando eu tenho de trabalhar em dois ou três cargos, que qualidade de ensino têm tido esses alunos? Que saúde podem ter os professores? Estou cansada de ouvir e ler que se não estamos satisfeitos que procuremos outra coisa e liberemos as vagas. Eu não sou rato!!!!! Não é abandonando o problema que ele irá se resolver como mágica! Porque seria como assumir que, de fato, o professor é o responsável pelo sucesso ou fracasso escolar, eu saio, entra outra pessoa, que sai e deixa a vaga que é preenchida novamente por outro... e o problema da remuneração, da falta de condições, de alunos defasados de vida familiar e social continua. A lei 11.738 de 2008 veio com 20 anos de atraso - haja visto que na constituição de 1988 se prevê a criação de uma lei que regulamente a profissão que, pasmem, até 2008 não o era. Ela estabelece um teto máximo de jornada de trabalho em, no máximo 40 horas. Institui também o piso salarial nacional dos professores, abaixo do qual nem União, nem estados ou municípios podem pagar. Vejam bem, a lei não prevê proporcionalidade como afirma o governo e seus representantes, e como absurdamente confirma o MPE. Retirar a ênfase (de no máximo) que existe na lei é manipular a verdade, e meia verdade é um amentira inteira. A decisão do acórdção do STF no dia 24 de agosto diz isso claramente, é inadmissível que continue a se fechar os olhos para os embustres que se faz com as leis aqui em MG, como a população tornou-se apática, e como a imprensa que, tão bem noticia "faits divers", não questiona esse aviltamento. O dicurso de que a educação precisa ser melhorada, que o professor precisa ser respeitado e mais valorizado, já é sinal de que algo vai muito mal. Porque demonstra que ainda estamos na era do improviso, de que é mais que justo que se contrate substitutos com ou sem formação, desde que os alunos estejam na escola. Nos acostumamos à ideia de que a escola virou continuidade de casa, lugar onde se depositam filhos. A escola é sim um espaço de convívio social, como o é a igreja, o clube, as festas, as reuniões de família. Mas, de maneira alguma ela deve ser tomada como a responsável pela promoção desse convívio. Como podem pensar que eu habilitada em português, meu colega em matemática, outro em biologia podemos educar os seus filhos? Como podem depositar essa responsabilidade em nossas mãos com um quadro e um giz? Porque o apagador fica por nossa conta. Como podem saber se eu tenho padrões morais, religiosos ou políticos coerentes com a família de cada um? Porque eu posso ter uma vida que se afaste totalmente dos padrões de uma família, sem que isso interfira na qualidade do meu profissionalismo. E olha, como temos sido pais e mães, como temos recebido alunos sem nenhum padrão, sem nenhuma referência, alunos que sequer sabem reconhecer um conselho de uma "tirada", como eles mesmos dizem, alunos que não conseguem nos respeitar, que nos mandam para todos aqueles lugares que não convêm, mas não porque não gostam de nós, eles não gostam é da vida. E querem que, com a nossa formação, demos conta disso. E assim, pelo "sucesso ou fracasso em notas" somos avaliados. Com tudo isso, que é a realidade da educação estadual em Minas Gerais, pedem-me ponderação. Pedem-me que eu pense nos alunos prejudicados - como se já não o fossem, por todas as situações descritas acima, como se eu lutar por um salário garantido por LEI, não fosse sinal de cuidado com o aluno. Se nos pagassem o que é devido não precisaríamos nos submeter a duplas jornadas, a tanto desgaste, - acada redação ou exercício que passo, levo PARA MINHA CASA uma média de seiscentos trabalhos,e cada redação deve ser corrigida como única, pois de fato é, devo lembrar quem é o aluno, qual é o nível que ele alcançou, qual o progresso ou regresso que obteve. E agora pedem-me ponderação, pedem-me que eu aceite R$712,00 como vencimenteo básico!!!! O mesmo, mesmíssimo salário (na maldita proporcionalidade) que um profissional com ensino médio recebe quando ingressa na carreira!!!! Que absurdo!!! Parem de tratar os cursos de licenciatura como se fossem depósitos de incapacitados que não conseguiram passar em outro vestibular! Parem de tratar os professores como se fossem seres místicos movidos por amor e sacerdócio porque não os somos! É preciso sim, como em qualquer profissão talento, mas em maior medida são necessárias muitas horas de dedicação, abdicação, de muitas horas de estudos continuados. Não vejo ninguém dizendo que repórteres, jornalistas, fotógrafos, economistas, engenheiros ou quem quer que seja trabalhe por amor, e que se não estiver satisfeito que saiam. Não! Vocês se mobilizaram quando se falou em regulação da imprensa, não foi? Por lei temos direito à greve, e não foram poucas as tentativas de diálogo com o governo de Minas Gerais, são mais de dez anos, e ao contrário do que só agora vocês têm ouvido, não obtínhamos reposta. Já a lei foi decretada em 2008, foram três anos para ajustes, ao invés disso inúmeras secretarias, e pompas foram criadas. Ao que vejo a COPA aqui em MG é prioridade! Só a questão da porbidade em não se regular é que não se discute. Por favor, ponderem também que, mesmo a lei não falando em proporcionalidade (e se eu fosse vocês a leriam, tem apenas duas páginas), aceitamos a infeliz da proporcionalidade, mas que se respeite os planos de carreira e progressão da mesma, que nos trate como se trata qualquer outro profisisonal com carreira e curso superior. Parem de finfir que precisamos negociar. Não se negocia leis meus caros, se cumpre leis. Se eu, vocês ou qualquer pessoa justa não a cumprir temos a cadeia à nossa espera! Não venha agora a sociedade esperar que os professores negociem, barganhem leis com o Estado. Porque no dia em que fizermos isso, estaremos ensinando aos nossos alunos que, realmente, a lei é apenas um detalhe, a cidadania é algo que se compra e se engaveta. Não sei realmente o que conquistaremos nessa briga de CACHORROS grandes com poodles (não é preciso dizer quem é quem), mas certamente terei a dignidade de de ensinar aos meus alunos que ainda é possível lutar em Minas Gerais, que ainda é possível resgatar a liberdade para além do direito de ir e vir.
 
Com muito respeito e atençao a vocês.
 
Débora Martins C. B. Santos
Mestre em linguística pela UFMG - Professora na rede Estadual de MG.
 
ps.: Não espero que a leiam em público, mas espero sinceramente que a leiam e que reflitam.

2 comentários:

  1. Linda carta, com um sentimento que pode ser absorvido por cada um de nós educadores.

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  2. Também ouvi e me senti muito mal.
    Escrevi para eles, mas não fiz uma cópia, pois estava tão indignada que até me esqueci.

    Sua cara ficou excelente!!

    Mas temos que usar todas as nossas armas contra esta corja!!!

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